terça-feira, 20 de maio de 2008

Os aspectos-chave do Cerrado Brasileiro


O cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil. Sua ocupação original, antes de ser devastada, compreendia uma área aproximada de 2 milhões de km², atualmente restam menos que 20% desse total. É o bioma que mais sofreu impacto devido à ocupação humana, uma vez que pela alta fertilidade dos solos, práticas de plantio de alimentos, ou da própria cana-de-açúcar, seja ela para o mercado interno ou internacional, cresceram exacerbadamente nos últimos anos, e vêm ultrapassando limites imensuráveis em busca do crescimento econômico do país.
É um bioma que comporta numerosa biodiversidade endêmica – a maior do continente –, além de ser considerada o de maior área savânica do planeta.
Formado por tipos fitofisionômicos característicos de regiões tropicais: cerradão (composto de árvores médias e altas, porém ainda com um percentual de vegetação baixa e arbustos), cerrado limpo (com vegetação predominante e quase exclusiva de gramíneas), campo sujo (com cerca de 15% de árvores e arbustos, os quais concentram-se geralmente em "ilhas" de vegetação), campo rupestre (vegetação de altitude, predominantemente herbáceo-arbustiva), veredas (brejos ou locais encharcados, abrigando as palmeiras buritis, que só sobrevivem neste tipo de terreno, e se destacam na paisagem) e matas ciliares (matas fechadas que ocorrem em nascentes ou ao longo de cursos d’água, que misturam vegetação nativa do cerrado e de outros biomas, carregados por esses cursos d’água). Abriga plantas arbóreas de aparência seca com caules retorcidos e revestidos por casca espessa, entre outras espécies de arbustos e gramíneas.
São exemplos de plantas do cerrado, o Buriti (
Mauritia flexuosa), a Cagaita (Eugenia dysenterica), a Lobeira (Solanum lycocarpum), o Jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), a Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), o Pequi (Caryocar brasiliense), o Araticum (Annona crassiflora), dentre muitos outros.
Atualmente é amplamente aceito que clima, solos e fogo são altamente interativos nos seus efeitos sobre a vegetação no Bioma Cerrado. Como sugerem alguns cientistas, o bioma é um “clímax do fogo”, considerando que o Cerrado não se torna uma floresta devido à interação desses três fatores, tendo o fogo um papel secundário. Segundo esses estudiosos, a falta de nutrientes e a grande presença de alumínio são responsáveis também pela fisionomia do bioma. O fogo assume então papel atuante na diversificação das formações vegetais, quando gerado por fontes naturais.
Entretanto, o que vem ocorrendo são as queimadas irregulares e sem controle, um toco de cigarro que é lançado naquela vegetação seca é capaz de ocasionar queimadas com extensões incalculáveis e de difícil controle. O controle do fogo em unidades de conservação, APAs, por exemplo, é uma necessidade urgente, sob pena de vermos perdida grande parte da biodiversidade dessas áreas. O Parque Nacional Chapada dos Veadeiros e o Parque Nacional das Emas são alvos fáceis dessa problemática, uma vez que, o segundo, por exemplo, é uma verdadeira ilha de Cerrado, em meio a um mar de soja, e se sua fauna for dizimada, não há chance de repovoamento, uma vez que essa fauna já não existe nas redondezas.
E por falar em fauna, o Bioma abriga um avifauna extremamente rica e diversa, com hábitos de vida bastante peculiares, desde a famosa seriema (Cariama cristata), a “voz do cerrado”; algumas espécies endêmicas, como a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus), o papagaio-galego (Amazona xanthops ) e o soldadinho (Antilophia galeata); outras com importante presença no Cerrado mas que também ocorrem em outros biomas tais como, a arara-canindé (Ara ararauna), a perdiz (Rhynchotus rufescens), a ema (Rhea americana), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestris), o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), a corruíra (Troglodytes aedon) e o tiziu (Volatinia jacarina).
Além da avifauna, no bioma predominam animais, com diferenciação acentuada no tipo físico e nos hábitos de vida, são eles: jibóia (Boa constrictor), a cascavel (
Crotalus durissus), várias espécies de jararaca (Bothrops sp), o lagarto teiú (Tupinambis sp), o tatu-peba (Euphractus sexcinctus), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), o veado campeiro (Ozotoceros bezoarticus), a anta (Tapirus terrestris), o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o cachorro-vinagre (Speothos venaticus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o gato mourisco (Herpailurus yaguarondi), a jaguatirica (Leopardus pardalis), e com anatomia um pouco maior, a onça-pintada (Panthera onca). Entretanto, grande parte dessas espécies estão enquadradas nas referências de animais em extinção, e merecem certos cuidados. A caça predatória, as queimadas, as práticas agropecuárias, como plantação de soja e cana-de-açúcar, vieram pra diminuir ainda mais a densidade populacional dessas espécies.
Pensando nisso, e com o esgotamento dos recursos naturais da Terra, começaram as discussões a respeito das Unidades de Conservação, para impor limites e fronteiras, além de monitorar as áreas que, constantemente, vêm sendo impactadas. A criação do Parque Nacional das Emas, por exemplo, deu-se a fim de minimizar essas atividades, preservar as diversas nascentes dos rios
Jacuba e Formoso, afluentes do rio Parnaíba, da bacia do rio Paraná, e conservar a fauna e flora da região. Infelizmente, muitos relatos do responsável do parque, Antônio Malheiros, evidenciam que apesar dos cuidados com região, todos estes fatores reduzem a área preservada da maior e mais representativa área de Cerrado.
Outras regiões que também sofrem com esses problemas estão nas áreas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros – reconhecido como Patrimônio Natural Mundial pela
UNESCO em Dezembro de 2001 –, o Parque Estadural Terra Ronca – criado com o objetivo de preservar a fauna, a flora, os mananciais e, em particular, as áreas de ocorrências de cavidades naturais subterrâneas e seu entorno, sítios naturais de relevância ecológica e reconhecida importância turística – o Parque Estadual de Paraúna, o Parque Estadual da Serra de Caldas – criado com o objetivo de preservar as nascentes das águas termais dos municípios de Caldas Novas e Rio Quente –, o Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco – criado a fim de proteger um dos últimos remanescentes da vegetação característica da região Central do Estado de Goiás –, o Parque Estadual dos Pirineus – tombada como Patrimônio Histórico Cultural –, além da Área de Proteção Ambiental da Serra Dourada, na região de Mossâmedes, Goiás e Buriti de Goiás, e, também, de grande relevância da fauna e da flora.
Um bom indicativo da riqueza da fauna, flora, recursos minerais, mananciais, sítios naturais subterrâneos dos ecossistemas de Goiás é o numeroso enclave de Parques Ecológicos no estado. Felizmente, a criação dessas unidades impede, mesmo que um pouco, a utilização exacerbada desses recursos, porém alguns problemas internos de controle e administração desses parques dificultam os cuidados de todos os aspectos ambientais dessas regiões. A falta de fiscalização, de educadores ambientais e até mesmo guias, torna deficiente o caráter conservacionista e/ou preservacionista que esses parques possuem em lei, o que torna preocupante a situação de que muitos parques se encontram.
Os cuidados com a área de abrangência do Cerrado, têm que ser bastante efetiva, uma vez que é um Bioma que comporta uma série de fatores importantes do meio ambiente, e com o estabelecimento de muitas áreas para plantio de soja e cana-de-açúcar, dificulta o transporte de animais pelos corredores ecológicos.
A criação de Parques Ecológicos é tão imprescindível quanto o monitoramento adequado desses parques, para o controle do fogo, a preservação/conservação da fauna e flora, divulgação de projetos ambientais, crescimento do ecoturismo nessas áreas, e muitas alternativas e usos adequados desse Bioma tão importante que é o Cerrado. Portanto, cuidar dessa área, que a gente vive, é cuidar de onde a gente mora. Cada um tem que saber o que utiliza e como utiliza, além da destinação final. Pensando nisso, a gente pode viver melhor, cuidando da natureza, dos recursos que ela nos oferece, e utilizando-os, de forma sustentável e com consciência ambiental.
[Matheus Rez]

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